Burnout e o Regresso ao Trabalho: Como Estar Alerta aos Sinais e Promover um Ambiente SaudáveL
- GO Coaching
- Sep 2
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Setembro marca o regresso à rotina, ao ambiente de trabalho, aos projetos e aos objetivos por concretizar. Para muitas pessoas, é também o momento em que se sente, com mais força, o peso acumulado dos meses anteriores. Está cada vez mais claro que o burnout não é um problema individual: é um sintoma organizacional que reflete ambientes de trabalho exigentes, silenciosos e, muitas vezes, desumanizados, sem respeito pelo bem-estar dos colaboradores.
Inspirado pela participação da GO Coaching no episódio Burnout: o Colapso Silencioso, do podcast "Ninguém Fala Disto", da Arkopharma, apresentado por Teresa Horta Colaço, este artigo parte da escuta de centenas de profissionais em sessões de coaching para refletir sobre o que pode ser feito — por todos — para prevenir o colapso.
O que está na origem do burnout?
Ainda persiste a ideia de que o burnout é provocado apenas por carga horária excessiva. Na realidade, o que mais desgasta são as condições de trabalho invisíveis: a pressão constante sem autonomia, a falta de reconhecimento e de comunicação interna, o isolamento relacional, a ambiguidade de papéis, e a ausência de sentido no que se faz.
Trabalhar muito pode ser empolgante; trabalhar muito sem significado, não. O cansaço crónico não nasce só da sobrecarga, mas da frustração constante em contextos que exigem sem apoiar. A literatura científica reforça esta visão: estudos como os de Christina Maslach (Universidade da Califórnia) apontam que o burnout se desenvolve a partir da interação entre exigência emocional, desajuste entre valores pessoais e organizacionais e a sensação de ineficácia.
Um ambiente de trabalho saudável não é um luxo
Um ambiente de trabalho saudável não se define por ter fruta fresca na copa ou massagens semanais. Nem mesmo pela possibilidade de trabalho remoto. Define-se por relações de confiança, segurança psicológica, espaço para o erro e lideranças capazes de escutar antes de agir. A Organização Mundial da Saúde, na sua classificação da saúde ocupacional, identifica o burnout como um fenómeno ligado ao contexto profissional e não a questões clínicas individuais.
Ambientes com clareza de papéis, rotinas previsíveis, liberdade para decidir e um reconhecimento regular são os que melhor resistem ao desgaste emocional. Isto exige estrutura, mas também intenção: não basta promover ações pontuais de bem-estar. É preciso incorporar a saúde mental no trabalho como pilar fundamental da gestão de pessoas.
O papel das empresas: compromisso e consistência
A promoção da saúde mental nas empresas passa por mais do que a celebração do Dia do Bem-Estar. Envolve a criação de sistemas de apoio, políticas de flexibilidade, comunicação interna transparente e avaliação contínua do clima organizacional. As empresas que evoluem são aquelas que assumem responsabilidade e investem em modelos sustentáveis de colaboração, inclusivamente através de modelos de trabalho híbridos ou de trabalho remoto.
Segundo um estudo publicado na Occupational Health Psychology, dois dos principais preditores de burnout são: ausência de autonomia e sobrecarga de tarefas desorganizadas. Isto mostra que o problema não está apenas no volume de trabalho, mas em como é organizado e percecionado pelos profissionais.
A liderança tem um papel determinante: são os líderes que têm a capacidade de normalizar o pedido de ajuda, abrir espaço para conversas difíceis, identificar sinais precoces de desgaste e dar o exemplo ao mostrar os próprios limites.
O que ouvimos no terreno
Nos nossos processos de coaching escutamos recorrentemente três temas que não podem ser ignorados:
Pessoas que se sentem "em colapso silencioso", sem conseguir verbalizar que algo está errado nas condições de trabalho em que laboram;
Profissionais inseridos num ambiente de trabalho que instiga o medo de parecerem fracos se pedirem ajuda;
Colaboradores que vão acumulando sintomas até não conseguirem mais esconder.
A vergonha e o medo ainda dominam muitas culturas organizacionais. São esses silêncios que tornam o burnout tão perigoso. Estudos da Gallup mostram que trabalhadores que se sentem escutados e valorizados têm 64% menos probabilidade de desenvolver burnout e problemas de saúde mental no trabalho. A escuta ativa, quando sistematizada, é um verdadeiro antídoto.
Como prevenir?
Promover um ambiente de trabalho inclusivo, saudável e humanizado é hoje um fator competitivo. Empresas com culturas baseadas na transparência e no bem-estar têm melhores resultados, menor rotatividade e maior capacidade de atração de talento. E há pequenas grandes mudanças que fazem toda a diferença:
Criar espaços regulares de escuta que, mesmo que não resolvam problemas, ouçam e compreendam as preocupações de bem-estar dos colaboradores;
Rever rotinas e prioridades: tudo é urgente, mas nem tudo é essencial;
Formar líderes em inteligência emocional e gestão de pessoas e de energia;
Medir não só produtividade, mas também clima emocional e equilíbrio interno;
Promover práticas e condições de trabalho baseadas em evidência científica e neuropsicológica;
Integrar o bem-estar na estratégia de negócio, não como um extra, mas como base.
Exemplos de práticas eficazes
Na GO Coaching trabalhamos com dezenas de empresas que querem colocar o foco nas pessoas — com impacto e sustentabilidade. Algumas das soluções que implementamos com sucesso incluem:
Sessões individuais de coaching psicológico, onde cada colaborador pode refletir sobre os seus bloqueios, ciclos de exaustão e recursos internos;
Programas de coaching de equipa com foco em escuta, alinhamento e rotinas de colaboração mais eficazes;
Formações em autogestão emocional, organização do trabalho, comunicação interna, gestão de prioridades e liderança com impacto humano;
Criação de rituais de equipa (check-ins, círculos de energia, partilha de foco semanal);
Consultoria para redesenhar sistemas de trabalho alinhados com os ciclos naturais de energia, capacidade de foco e tempos de recuperação.
Estas práticas não são luxo. São estratégia. E quando integradas com consistência e coragem, funcionam como um sistema imunitário organizacional.
O burnout não é fraqueza. É sinal de alerta.
Ignorar sinais como irritabilidade constante, cansaço extremo, sensação de inutilidade ou isolamento emocional tem um custo elevado — individual e coletivo. Quanto mais se adia a intervenção, mais difícil é reverter o desgaste. O verdadeiro problema não é o cansaço, é a normalização do cansaço como estado permanente no ambiente de trabalho.
Este regresso ao trabalho pode ser o momento de repensar. De cuidar. De mudar. E, acima de tudo, de abrir espaço para falar — com verdade — sobre o que nos custa.
